Getsêmani

Getsemani

É quase meia-noite quando eles deixam o cenáculo e descem pelas ruas da cidade. Eles passam pelo Tanque Inferior e passam pelo Portão da Fonte, saindo de Jerusalém. As estradas estão forradas com os fogos e barracas de peregrinos da Páscoa. A maioria está dormindo, fartos com a refeição da noite. Aqueles ainda acordados não dão importância ao bando de homens que caminham pela estrada de terra.

João 18:1 “Tendo terminado de orar, Jesus saiu com os seus discípulos e atravessou o vale do Cedrom. Do outro lado havia um olival, onde entrou com eles.

Eles atravessam o vale e sobem o caminho que os levará a Getsêmani. A estrada é íngreme e eles param para descansar. Em algum lugar dentro das muralhas da cidade o décimo segundo apóstolo desce sorrateiramente uma rua. Os pés dele foram lavados pelo homem que ele trairá. O coração dele foi tomado pelo Maligno que ele ouviu. Ele corre para encontrar Caifás.

Quando Jesus observa a cidade de Jerusalém, ele vê o que os discípulos não podem ver. É aqui, nos arredores de Jerusalém que a batalha terminará. Ele vê as manobras de Satanás. Ele vê o corre-corre dos demônios. Ele vê o Maligno se preparando para o encontro final. O inimigo olha como um espectro aquela hora. Satanás, o anfitrião do ódio, agarrou o coração de Judas e sussurrou na orelha de Caifás. Satanás, o mestre da morte, abriu as cavernas e se preparou para receber a fonte de luz.

A história registra isso como a batalha dos judeus contra Jesus. Não era. Era uma batalha de Deus contra Satanás.

E Jesus sabia disso. Jesus sabia que antes que a guerra acabasse, ele seria levado cativo. Ele sabia que antes da vitória viria a derrota. Ele sabia que antes do trono viria o cálice. Ele sabia que antes da luz de domingo viria a escuridão de sexta-feira. E ele tem medo.

Ele vira e começa a subida final até o jardim. Quando ele chega à entrada, ele para e volta os olhos para o círculo de seus amigos. Será a última vez que ele os vê, antes deles o abandonarem. Ele sabe o que farão quando os soldados vierem. Ele sabe que até a traição deles falta poucos minutos.

Mas ele não acusa. Ele não dá bronca. Ao invés disso, ele ora. Os últimos momentos dele com os seus discípulos são em oração. E as palavras que ele fala são tão eternas quanto as estrelas que as ouvem.

Imagine, por um momento, você mesmo nesta situação. Sua hora final com um filho prestes a ser enviado para uma terra distante. Seus últimos momentos com seu cônjuge que está morrendo. Uma última visita com seu pai. O que você diz? O que você faz? Que palavras você escolhe?

É notável que Jesus decidiu orar. Ele decidiu orar por nós. João 17:20-21 “Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.

Você precisa prestar atenção que nesta oração final Jesus orou por você. Você precisa grifar em vermelho e realçar em amarelo o amor dele: “Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles”. Isso é você. Enquanto Jesus entrou no jardim, você estava na oração dele. Quando Jesus olhou ao céu, você estava na visão dele. Quando Jesus sonhou com o dia em que nós estaríamos com ele, ele viu você lá.

A oração final dele era por você. A dor final dele era para você. A paixão final dele era você. Ele vira então, entra no jardim, e convida Pedro, Tiago e João a seguirem. Ele lhes diz que a alma dele “está profundamente triste, até a morte”, e começa a orar.

Ele nunca se sentiu tão só. O que deve ser feito, só ele pode fazer. Nenhum anjo pode fazer. Nenhum anjo tem o poder para quebrar os portões de inferno. Nenhum homem pode fazer. Nenhum homem tem a pureza para destruir o controle do pecado. Nenhuma força na terra pode enfrentar o poder do mal e ganhar, exceto Deus.

Marcos 14:38 “Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca”.

Sua humanidade implorou para ser livrado daquilo que sua divindade podia ver. Jesus, o carpinteiro, roga. Jesus, o homem, olha para dentro do buraco escuro e implora, “será que não pode haver outro jeito?”

Será que ele sabia da resposta antes de fazer a pergunta? Será que seu coração humano imaginava que seu pai divino havia achado outra maneira? Nós não sabemos. Mas nós sabemos que ele pediu para escapar. Nós sabemos ele implorou por uma saída. Nós sabemos que havia um momento, no qual, se ele pudesse, ele teria se retirado da enrascada toda e ido embora.

Marcos 14:36 E dizia: “Aba, Pai, tudo te é possível. Afasta de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, mas sim o que tu queres”.

Mas ele não pôde. Ele não pôde porque ele viu você. Aí mesmo no meio de um mundo que não é justo. Ele lhe viu na jornada da vida que você não pediu. Ele lhe viu traído por aqueles que você ama. Ele lhe viu com um corpo que adoece e um coração que cresce e enfraquece.

Ele viu você em seu próprio jardim de árvores tortas e amigos adormecidos. Ele lhe viu fitando o buraco dos seus próprios fracassos e a boca de sua própria sepultura.

Ele viu você em seu próprio Jardim de Getsêmani – e ele não queria que você estivesse só. Ele queria que você soubesse que ele esteve lá também. Ele sabe o que é ser alvo de um complô. Ele sabe o que é ficar confuso. Ele sabe o que é ficar dividido entre dois desejos. Ele sabe o que é sentir o fedor de Satanás. E, talvez mais que tudo, ele sabe o que é implorar a Deus para mudar de plano e ouvir Deus dizer tão suavemente, mas firmemente, “Não”.

Foi isso que Deus disse a Jesus. E Jesus aceita a resposta. Em algum momento durante aquela hora de meia-noite um anjo de clemência chega para o corpo cansado do homem no jardim. Quando ele fica de pé, a angústia não mais está nos olhos dele. Seu punho não se apertará mais. O coração dele não lutará mais.

A batalha é ganha. Você pode ter pensado que foi ganha no Gólgota. Não foi. A batalha final foi ganha no Getsêmani. E o sinal da conquista é Jesus em paz entre as oliveiras.

Porque foi no jardim que ele tomou sua decisão.

Ele preferiria ir para inferno por você do que ir para o céu sem você.